O “R.A.P enC.I.N.A” : revolusom através de palavras - conhecimento, identidade, negritude e antirracismo

Abstract

Esta pesquisa se dedica à investigação da cultura hip-hop, com foco especial no rap, estabelecendo-o como uma ferramenta estratégica adotada pela negritude para enfrentar o racismo antinegro no contexto brasileiro. Para atingir esse objetivo, utilizamos como campo o Programa Território Hip-Hop, uma iniciativa promovida pela prefeitura de São Paulo. Iniciamos com Observação Participante, permitindo vivenciar e compreender as dinâmicas e interações dos/as jovens negros/as e periféricos atuantes no programa. Posteriormente, organizamos um Experimento envolvendo dois Grupos Focais e Entrevistas semiestruturadas com alguns/mas desses/as adolescentes, captando perspectivas e conhecimentos situados onde as músicas surgiram como provocação. Essas abordagens no processo de produção de dados resultaram em uma análise sólida e fundamentada, fornecendo informações valiosas sobre o potencial do rap como recomposição de humanidade nas vivências, resistência e sobrevivência. No referencial teórico, este trabalho se baseia nas perspectivas da proposta Decolonial e das teorias Pós-coloniais, Afropessimista e do hip-hop studies, combinando essas diferentes linhas de pensamento para uma compreensão mais aprofundada das dinâmicas analisadas. Como resultado, os dados produzidos revelaram evidências de que o rap transcende a categorização de gênero musical; ele pode ser considerado também um modo de existência, linguagem, conjunto de valores e, sobretudo, um produtor de conhecimento. Dessa forma, rappers, ao desafiarem o status quo, assumem o compromisso de se apresentarem como verdadeiros/as intelectuais e representantes de uma parcela significativa da população brasileira que luta para ser ouvida diante dos desafios sociais e políticos que enfrenta.

This research is dedicated to investigating hip-hop culture, with a special focus on rap, establishing it as a strategic tool adopted by the Black community to confront anti-Black racism in the Brazilian context. To achieve this goal, we used the Território Hip-Hop Program as our field, an initiative promoted by the municipality of São Paulo. We began with Participant Observation, allowing us to experience and understand the dynamics and interactions of young Black and peripheral individuals involved in the program. Subsequently, we organized two Experiments through Focus Groups and Semi-structured Interviews with some of these adolescents, capturing perspectives and situated knowledge where music emerged as a provocation. These approaches in the data production process resulted in a solid and grounded analysis, providing valuable information about the potential of rap as a recomposition of humanity in experiences, resistance, and survival. In the theoretical framework, this work is based on the perspectives of the Decolonial proposal and Post-colonial, Afro-pessimist, and hip-hop studies theories, combining these different lines of thought for a deeper understanding of the analyzed dynamics. As a result, the produced data revealed evidence that rap transcends the categorization of a musical genre; it can also be considered a way of life, language, a set of values, and, above all, a producer of knowledge. Thus, rappers, in challenging the status quo, commit to presenting themselves as true intellectuals and representatives of a significant portion of the Brazilian population struggling to be heard in the face of social and political challenges.