Impacto da pandemia COVID-19 em gestações complicadas por diabetes tipo 1, tipo 2 e gestacional em atendimento em serviço de referência do Sul do Brasil

Abstract

Em março de 2020, a Organização Mundial de Saúde declarou o surto de COVID-19 uma pandemia global. Medidas de higiene, isolamento social e uso de máscaras foram estabelecidas, impactando na rotina e no estilo de vida das pessoas. Os sistemas de saúde passaram por um desafio sem precedentes e o mundo sofreu rupturas econômicas e sociais devastadoras. Para avaliar os efeitos indiretos dessa pandemia no cuidado de mulheres com gestações complicadas por diabetes gestacional ou pré-existente, dois estudos foram realizados. Um ´painel de transversais com dados coletados de prontuários eletrônicos de 235 gestantes com diabetes tipo 1, tipo 2 ou gestacional, comparou o período pandêmico de setembro de 2020 a março de 2021, com seis meses anteriores à pandemia em 2019. Não houve diferença entre os grupos nos parâmetros objetivos de cuidado avaliados, como por exemplo, o número de consultas com especialistas durante o pré-natal. Os riscos de hipoglicemia neonatal e de bebês pequenos para a idade gestacional foram maiores no grupo com pré-natal antes da pandemia (RR 4,04; IC 95% 1,37 - 11,98, p = 0,012, e RR 4,29; IC 95% 1,93 - 9,54, p <0,001, respectivamente). Adicionalmente, um estudo transversal avaliou 79 mulheres com gestações complicadas por hipertensão e/ou diabetes. Ansiedade e depressão foram avaliados pelo State-Trait Anxiety Inventory e pelo Patient Health Questionnaire, e as prevalências encontradas para esses transtornos mentais foram de 79,7% e 59,2%, respectivamente. Menor suporte social associou-se a pontuações mais altas em ambas as escalas. Apesar dos impactos econômicos, sociais e estruturais da pandemia de COVID-19, os parâmetros de cuidado materno foram semelhantes em mulheres grávidas com diabetes atendidas neste período, em comparação com aquelas atendidas anteriormente; alguns resultados neonatais importantes melhoraram durante a pandemia. Gestantes com diabetes e hipertensão apresentaram altos níveis de ansiedade e sintomas depressivos durante a pandemia. Faz-se necessário o desenvolvimento de estratégias para mitigar os efeitos indiretos do COVID-19 na saúde mental desta população.

In March 2020, the World Health Organization has declared the COVID-19 outbreak a global pandemic. Measures of hygiene, social isolation and the use of face masks were established, impacting people's livestyle and routine. Health systems underwent an unprecedented challenge, economic and social disruptions were devastating. To evaluate the indirect effects of this pandemic on the care of women with pregnancies complicated by gestational or pre-existing diabetes been assisted in a public university hospital in the South of Brazil, and on their maternal-fetal outcomes, two studies were elaborated. A cross-sectional panel data with information collected from electronic medical records from 235 pregnant women with type 1, type 2, or gestational diabetes; six months preceding the pandemic in 2019 were compared with the COVID-19 period from September 2020 to March 2021. There was no difference in objective care parameters, such as the number of appointments with specialists during prenatal care, between groups. Risks of neonatal hypoglycemia and small for gestational age were higher in the group with prenatal care before the pandemic (RR 4.04; 95% CI 1.37 – 11.98, p=0.012; RR 4.29; 95% CI 1.93 – 9.54, p<0.001, respectively). Additionally, a cross-sectional study evaluated 79 women with pregnancies complicated by hypertension and/or diabetes. Anxiety and depression were accessed by the State-Trait Anxiety Inventory and the Patient Health Questionnaire, prevalences found of these mental health disorders were 79.7% and 59.2%, respectively. Lower social support was correlated with higher scores on both scales. Despite the economic, social, and structural impacts of the COVID-19 pandemic, parameters of maternal care were similar in pregnant women with diabetes assisted during this period, compared to those assisted before; surprisingly, some important neonatal outcomes improved during the pandemic. Pregnant women with diabetes and hypertension presented high levels of anxiety and depressive symptoms during the pandemic. Strategies to mitigate COVID-19 indirect effects on mental health of this unique population are needed.