Caminhos da educação interprofissional no Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Primária à Saúde de Porto Alegre

Abstract

CONTEXTO: Esta pesquisa trata do tema da educação interprofissional (EIP) na formação em residência multiprofissional em saúde. A EIP tem sua base conceitual na interação e no aprendizado compartilhado de dois ou mais núcleos profissionais. OBJETIVO: Compreender se a EIP se articula à formação dos profissionais de saúde residentes durante o Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Primária à Saúde (REMAPS), Secretaria Municipal de Saúde, Porto Alegre, Rio Grande do Sul. METODOLOGIA: Pesquisa de abordagem qualitativa exploratória, de base fenomenológica. A amostra foi intencional. Participaram do estudo todos os residentes da REMAPS, que estavam no segundo ano da formação (n=10). A produção de dados ocorreu pela realização de entrevistas individuais semiestruturadas ocorridas no período da pandemia de COVID-19. O material textual produzido foi interpretado pela análise de conteúdo. O software Visual Qualitative Data Analysis (ATLAS.ti) apoiou a organização do material de pesquisa, a unitarização por temas emergentes e a construção das categorias de análise. Dados de perfil dos residentes (contexto) foram analisados pela estatística descritiva. A pesquisa foi aprovada por Comitê de Ética em Pesquisa. RESULTADOS: Os resultados mostraram que a formação de profissionais da saúde em cenários de aprendizagem da Atenção Primária à Saúde (APS) possibilitou o aprender e o trabalhar juntos, por meio de momentos de interação, troca de saberes e colaboração entre diferentes profissões. Atividades realizadas em conjunto por residentes e equipe de saúde, como discussão de casos, atendimentos domiciliares da equipe e reconhecimento do território, foram experiências potentes de aprendizagem para o trabalhar em uma equipe de modo interprofissional e para a vida dos residentes. O cuidado foi pautado nas necessidades dos usuários no cenário pandêmico, marcado por ações de vacinação, testagem para COVID-19 e atendimento de sintomáticos respiratórios. As reuniões de equipe foram identificadas pelos residentes como espaços potentes de diálogo e organização dos processos de trabalho, com possibilidade de tomar decisões compartilhadas. A comunicação foi evidenciada como elemento fundamental para o efetivo trabalho entre as profissões na APS. Ao compartilharem espaços e atividades, os residentes aprenderam ‘sobre’ e ‘entre’ as diferentes profissões da saúde, reconhecendo o papel de cada profissional no processo de cuidado. Os desafios vivenciados no cotidiano do trabalho foram percebidos como potentes para o desenvolvimento da resolução de conflitos na equipe e contribui para o aprendizado teórico-prático do residente. Neste aprendizado compartilhado entre residentes e profissionais da APS, destaca-se o protagonismo das pessoas-usuários como participantes-protagonistas das decisões sobre seu processo de cuidado, relação esta constituída pelo vínculo entre residentes e usuários. PRODUTO: Os resultados da pesquisa e o referencial teórico apoiaram a elaboração do produto educacional – Curso para Formação Profissional – Módulo Educação Interprofissional com foco na formação em programas de residência multiprofissional. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Experiências curriculares na APS, junto a equipes multiprofissionais que atuam no cuidado de pessoas-famílias-comunidade, confirmam a potência deste cenário de aprendizagem para o desenvolvimento de competências colaborativas, essenciais quando se pretende a EIP. Apesar da interprofissionalidade mostrar-se articulada ao currículo da residência, sendo percebida nas atividades desenvolvidas nos cenários de vivência na APS, nas atividades teóricas não foi relatada. Recomenda-se o reforço das bases teórico-conceituais da EIP no currículo da residência, bem como pesquisas complementares que incluam a percepção de preceptores, tutores e coordenação sobre a EIP, considerando a relevância desta formação nas Unidades de APS de gestão direta em Porto Alegre.

CONTEXT: This research deals with the theme of interprofessional education (IPE) in the training of multiprofessional health residents. IPE has its conceptual basis in the interaction and shared learning of two or more professional groups. OBJECTIVE: To understand if IPE is articulated to the training of residents of the Multiprofessional Residency Program in Primary Health Care (REMAPS), Municipal Health Secretariat, Porto Alegre, Rio Grande do Sul. METHODOLOGY: Qualitative exploratory research, based on phenomenology. The sample was intentional. All residents of REMAPS who were in the second year of training (n=10) participated in the study. Data production occurred through individual semi-structured interviews. The textual material produced was interpreted by content analysis. The Visual Qualitative Data Analysis software (ATLAS.ti) supported the organization of research material, unitization by emerging themes, and construction of analysis categories. Resident profile data (context) were analyzed by descriptive statistics. The research was approved by the Research Ethics Committee. RESULTS: The training of healthcare professionals in learning scenarios in Primary Health Care (PHC) has allowed for learning and working together through moments of interaction, knowledge exchange, and collaboration among different professions. Activities carried out jointly by residents and the health team, such as case discussions, home visits by the team, and recognition of the territory, were potent learning experiences for working in an interprofessional team and for the residents' lives. Care was based on the needs of users in the pandemic scenario, marked by vaccination actions, testing for COVID-19, and care for respiratory symptoms. Team meetings were identified by residents as powerful spaces for dialogue and organization of work processes, with the possibility of making shared decisions. Communication was shown to be a fundamental element for effective work between professions in PHC. By sharing spaces and activities, residents learned ‘about’ and ‘between’ different health professions, recognizing the role of each professional in the care process. The challenges experienced in the daily work were perceived as potentialities for the development of conflict resolution within the team and contribute to the theoretical and practical learning of the resident. In this shared learning between residents and professionals in PHC, the protagonism of user-people as participant-protagonists in decisions about their care process is highlighted, a relationship constituted by the bond between residents and users. PRODUCT: The results of the research and the theoretical reference supported the development of the educational product – Professional Training Course – Interprofessional Education Module focused on training in multiprofessional residency programs. FINAL CONSIDERATIONS: Curricular experiences in PHC, with multiprofessional teams that work in the care of people-families-community, reinforce the potency of this learning scenario for the development of collaborative competencies, essential when IPE is intended. Although interprofessionalism was shown to be articulated with the residency curriculum, being perceived in the activities developed in the living scenarios in PHC, it was not reported in the theoretical activities. It is recommended to reinforce the theoretical and conceptual foundations of IPE in the residency curriculum, as well as to conduct complementary research that includes the perceptions of preceptors, tutors, and coordinators regarding IPE. This is particularly important given the relevance of IPE training in the direct management PHC Units in Porto Alegre.