Fatores protetivos e de risco relacionados à microbiota intestinal em pacientes com câncer colorretal em terapia antineoplásica endovenosa : uma revisão de escopo

Abstract

Introdução: Os tumores colorretais são a segunda neoplasia mais prevalente na população mundial. No Brasil, 30% dos casos de câncer estão associados a fatores comportamentais preveníveis como maus hábitos alimentares, fumo e sedentarismo. O desequilíbrio alimentar induz a disbiose da microbiota intestinal. Este processo está ligado à carcinogênese colorretal por elevar a expressão de genes cancerígenos, aumentar radicais livres e inibir a apoptose celular, dentre outros. A disbiose pode interferir na quimioterapia, reduzindo a eficácia dos fármacos endovenosos e aumentar os efeitos colaterais. A manutenção de uma microbiota intestinal diversificada e saudável pode auxiliar na redução de efeitos colaterais trazendo benefícios durante o tratamento quimioterápico endovenoso. Acredita-se que essa revisão de escopo possa auxiliar nas orientações multiprofissionais em saúde, visando melhores práticas no atendimento de pacientes com câncer colorretal. Objetivo: Mapear os fatores protetivos e de riscos relacionados à microbiota intestinal de pacientes adultos com câncer colorretal em tratamento quimioterápico endovenoso. Método: Trata-se de uma revisão de escopo em que foram utilizadas o Checklist PRISMA-ScR e as etapas propostas pelo Instituto Joanna Briggs: identificar a questão de pesquisa, os estudos relevantes, seleção dos estudos e mapeamento dos dados. O mnemônico PCC (população, conceito e contexto) determinou a questão de pesquisa: quais os fatores protetivos e de riscos para a microbiota intestinal de pacientes adultos com câncer colorretal em tratamento quimioterápico endovenoso? Incluiu-se também uma questão secundária: qual a influência da nutrição sobre os efeitos protetivos e de risco da microbiota intestinal de pacientes adultos com câncer colorretal em tratamento quimioterápico endovenoso? O acrônimo PCC foi utilizado para a coleta de dados, a qual foi realizada de janeiro a junho de 2023. Foram incluídas as seguintes fontes de informação: Lilacs/Biblioteca Virtual em Saúde, Medline/PubMed, Embase e Scopus, Web of Science, COCHRANE, CINAHL e Academic Search Premier, Food Science Source e Food Science and Technology Abstracts, Google Scholar e o Catálogo de Teses & Dissertações da CAPES, publicados em todos os idiomas e sem limite temporal. A seleção foi realizada por dois revisores independentes e as divergências apreciadas por um terceiro revisor. A extração dos dados foi realizada por meio de instrumento de coleta elaborado pelos autores, após teste piloto. O protocolo desta revisão de escopo foi registrado no Open Science Framework: OSF.IO/Y2U6V. Resultados: Foram mapeados 3.025 documentos, no período de janeiro a março de 2023, nas seguintes bases de dados: BVS (n=30; 0,99%), CINAHL (n=329; 10,88%), COCHRANE LIBRARY (n=2; 0,07%), EMBASE (n=354; 11,70%), PMC (n=17; 0,56%), PUBMED (n=531; 17,55%), SCIELO (n=2; 0,07%), SCOPUS (n=1252; 41,39%), WOS (n=508; 16,79%). Após exclusão de duplicados, leitura de título e resumos, restaram para leitura de texto completo 116 artigos. Destes, 25 foram incluídos, sendo suas 1.840 referências revisadas, dessas 5 estudos foram captados, totalizando 30 artigos. Os estudos foram publicados entre os anos de 2007 e 2023, todos em língua inglesa. O país com maior número de publicações foi os Estados Unidos da América (EUA) com 16,7% publicações, seguido da China 13,3% e Brasil com 6,7%. Os periódicos com maior número de publicações foram Journal Frontiers in Oncology, 13,8% e a revista Nutrients com 6,9%. A maioria foram artigos de revisão 43,3%, seguido por ensaios clínicos randomizados 30%, revisão sistemática com 6,7% e sem metanálise 6,7%. Várias pesquisas apontam para os benefícios da microbiota intestinal no tratamento do CCR, no entanto ainda são inconclusivos, necessitando de estudos mais robustos nessa área. Conclusões: As pesquisas mapeadas evidenciam que a composição da microbiota intestinal, a dieta e a disbiose desempenham um papel importante no desenvolvimento e progressão do câncer colorretal. Os estudos evidenciam benefícios no uso de probióticos e intervenções nutricionais para alterar a composição da MI, como utilização de iogurtes e ômega 3, principalmente na redução de efeitos adversos da quimioterapia. Contudo, alguns estudos clínicos são inconclusivos, principalmente no que tange a maior eficácia do tratamento. Assim, pesquisas multicêntricas com maior nível de evidência precisam ser desenvolvidas para determinar a eficácia e segurança dessas intervenções junto a pacientes com CCR.

Introduction: Colorectal tumors are the second most prevalent neoplasm in the world population. In Brazil, 30% of cancer cases are associated with preventable behavioral factors such as poor eating habits, smoking and a sedentary lifestyle. Dietary imbalance induces dysbiosis of the intestinal microbiota. This process is linked to colorectal carcinogenesis by increasing the expression of carcinogenic genes, increasing free radicals and inhibiting cell apoptosis, among others. Dysbiosis can interfere with chemotherapy, reducing the effectiveness of intravenous drugs and increasing side effects. Maintaining a diverse and healthy intestinal microbiota can help reduce side effects and bring benefits during intravenous chemotherapy treatment. It is believed that this scoping review can help multiprofessional health guidelines, aiming for better practices in the care of patients with colorectal cancer. Objective: To map the protective and risk factors related to the intestinal microbiota of adult colorectal cancer patients undergoing intravenous chemotherapy. Method: Method: This was a scoping review using the PRISMA-ScR Checklist and the steps proposed by the Joanna Briggs Institute: identifying the research question, the relevant studies, selecting the studies and mapping the data. The PCC mnemonic (population, concept and context) determined the research question: what are the protective and risk factors for the intestinal microbiota of adult colorectal cancer patients undergoing intravenous chemotherapy? A secondary question was also included: what is the influence of nutrition on the protective and risk effects of the intestinal microbiota of adult colorectal cancer patients undergoing intravenous chemotherapy? The acronym PCC was used for data collection, which took place from January to June 2023. The following sources of information were included: Lilacs/Virtual Health Library, Medline/PubMed, Embase and Scopus, Web of Science, COCHRANE, CINAHL and Academic Search Premier, Food Science Source and Food Science and Technology Abstracts, Google Scholar and the CAPES Theses & Dissertations Catalog, published in all languages and with no time limit. The selection was carried out by two independent reviewers and any discrepancies were assessed by a third reviewer. The data was extracted using a collection instrument designed by the authors after a pilot test. The protocol for this scoping review was registered in the Open Science Framework: OSF.IO/Y2U6V.Results: 3. 025 documents were mapped from January to March 2023 in the following databases:VHL (n=30; 0.99%), CINAHL (n=329; 10.88%), COCHRANE LIBRARY (n=2; 0.07%), EMBASE (n=354; 11.70%), PMC (n=17;0.56%), PUBMED (n=531; 17.55%), SCIELO (n=2; 0.07%), SCOPUS (n=1252; 41.39%), WOS (n=508; 16.79%).After excluding duplicates, reading titles and abstracts, 116 articles remained for full-text reading.Of these, 25 were included, and their 1,840 references were reviewed, of which 5 studies were captured, totaling 30 articles.The studies were published between 2007 and 2023, all in English. The country with the highest number of publications was the United States of America (USA) with 16.7%, followed by China with 13.3% and Brazil with 6.7%. The journals with the highest number of publications were Journal Frontiers in Oncology (13.8%) and Nutrients (6.9%). The majority were review articles 43.3%, followed by randomized clinical trials 30%, systematic review with 6.7% and without meta-analysis 6.7%. Several studies point to the benefits of the intestinal microbiota in the treatment of RCC, but they are still inconclusive and require more robust studies in this area. Conclusions: The mapped studies show that the composition of the intestinal microbiota, diet and dysbiosis play an important role in the development and progression of colorectal cancer. The studies show benefits in the use of probiotics and nutritional interventions to alter the composition of the IM, such as the use of yogurt and omega 3, especially in reducing the adverse effects of chemotherapy. However, some clinical studies are inconclusive, especially with regard to the greater efficacy of the treatment.Thus, multicenter studies with a higher level of evidence need to be developed to determine the efficacy and safety of these interventions in patients with RCC.