Falha a fala, fala a forma : dicção negro-periférica em Cidade de Deus, de Paulo Lins
View/ Open
Date
2018Author
Academic level
Graduation
Subject
Abstract in Portuguese (Brasil)
O presente trabalho tem como objetivo promover uma análise racializada do romance Cidade de Deus, de Paulo Lins, a fim de destacar os momentos em que se apresenta uma “dicção negroperiférica”, identificada como uma voz de denúncia do processo social autoritário e racista que se desenrola ao longo da segunda metade do século XX na periferia do Rio de Janeiro. Para tanto, busca-se estabelecer aquelas que seriam as linhas de força para a composição dessa obra: a origem em uma pesquisa etnográfica, ...
O presente trabalho tem como objetivo promover uma análise racializada do romance Cidade de Deus, de Paulo Lins, a fim de destacar os momentos em que se apresenta uma “dicção negroperiférica”, identificada como uma voz de denúncia do processo social autoritário e racista que se desenrola ao longo da segunda metade do século XX na periferia do Rio de Janeiro. Para tanto, busca-se estabelecer aquelas que seriam as linhas de força para a composição dessa obra: a origem em uma pesquisa etnográfica, a forma romanesca que se quer tradicional e os conflitos raciais inerentes ao cenário das periferias urbanas brasileiras. A hipótese é de que a acomodação desses fatores cria alguns impasses formais, dados pelo arranjo intrincado tanto da forma quanto do processo social que se desdobra nela. A partir disso, instaura-se o diálogo com a leitura feita por Roberto Schwarz (1999a), que encontra uma virada no ponto de vista de classe que organiza a narrativa quando Lins sai do conjunto habitacional Cidade de Deus, lugar em que chegou ainda criança e permaneceu até a vida adulta, para a Universidade. Na visão do crítico, o autor deixa de ser objeto e passa a figurar como um agente, que olha para o terreno com a mediação de percepções externas, advindas do mundo acadêmico. Diante de tal proposição, a tentativa aqui é marcar os contornos raciais, alinhados a essa compreensão de classe, para adicionar novos questionamentos às análises de Cidade de Deus. Com esse intuito, o método de leitura que se propõe é composto a partir dos aportes de Walter Benjamin (2012), Cuti (2010a) e João Luiz Lafetá (1996). A perspectiva de raça é apoiada nas reflexões de Abdias Nascimento (2016), Frantz Fanon (2008), Silvio Almeida (2018) e Sueli Carneiro (2005). Soma-se a isso a observação da forma do romance em sua historicidade, acompanhando as formulações de Franco Moretti (2000), Georg Lukács (2009; 1965) e Theodor Adorno (2003). Encontra-se, no fim, uma relação tensiva entre a forma romanesca e a dicção negro-periférica, que é dada pelo modo como se compõe a narrativa, marcada pela nota lírica e pelo refinamento dos recursos literários e, ao mesmo tempo, pela violência e pelo racismo que estruturam a vida nas periferias brasileiras. ...
Resumen
El presente trabajo tiene como objetivo promover un análisis racializado de la novela Ciudad de Dios, de Paulo Lins, a fin de señalar los momentos en que se presenta una “dicción negra periférica”, identificada como una voz de denuncia del proceso social autoritario y racista que se desarrolla a lo largo de la segunda mitad del siglo XX en la periferia de Rio de Janeiro. Para eso, se busca establecer aquellas que serían las líneas de fuerza para la composición de esa obra: el origen en una inve ...
El presente trabajo tiene como objetivo promover un análisis racializado de la novela Ciudad de Dios, de Paulo Lins, a fin de señalar los momentos en que se presenta una “dicción negra periférica”, identificada como una voz de denuncia del proceso social autoritario y racista que se desarrolla a lo largo de la segunda mitad del siglo XX en la periferia de Rio de Janeiro. Para eso, se busca establecer aquellas que serían las líneas de fuerza para la composición de esa obra: el origen en una investigación etnográfica, la forma novelesca que se quiere tradicional y los conflictos raciales inherentes al escenario de las periferias urbanas brasileñas. La hipótesis es la de que la fusión de estos factores crea algunas cuestiones formales problemáticas, dadas por la disposición complicada tanto de la forma cuanto del proceso social que se despliega en ella. A partir de eso, se instituye el diálogo con la lectura hecha por Roberto Schwarz (1999a), que encuentra un cambio en el punto de vista de clase que organiza la narrativa cuando Lins sale del conjunto habitacional Ciudad de Dios, lugar en el que llegó cuando todavía era niño y permaneció hasta la vida adulta, para la Universidad. En la visión del crítico, el autor deja de ser objeto y pasa a figurar como un agente, que observa el terreno con la mediación de percepciones externas, advenidas del mundo académico. Delante de tal proposición, el intento acá es marcar los contornos raciales, nivelados a esa comprensión de clase, para añadir nuevos cuestionamientos a los análisis de Ciudad de Dios. Con ese objetivo, el método de lectura que se propone es compuesto a partir de los aportes de Walter Benjamin (2012), Cuti (2010a) y João Luiz Lafetá (1996). La perspectiva de raza es apoyada en las reflexiones de Abdias Nascimento (2016), Frantz Fanon (2008), Silvio Almeida (2018) y Sueli Carneiro (2005). Se suma a eso la observación de la forma de la novela en su historicidad, acompañando las formulaciones de Franco Moretti (2000), Georg Lukács (2009; 1965) y Theodor Adorno (2003). Se encuentra al fin una relación tensa entre la forma novelesca y la dicción negra periférica, que se da por el modo como se compone la narrativa, marcada por la nota lírica y por la sofisticación de los recursos literarios y, al mismo tiempo, por la violencia y por el racismo que estructuran la vida en las periferias brasileñas. ...
Institution
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Letras. Curso de Letras: Português e Espanhol: Licenciatura.
Collections
This item is licensed under a Creative Commons License