Influência da pandemia por COVID-19 sobre o tempo de atendimento e desfechos clínicos de admissões relacionadas à síndrome coronariana aguda : coorte retrospectiva

Abstract

No início dos sinais e sintomas da Síndrome Coronariana Aguda (SCA), o serviço de saúde deve ser procurado com urgência. O tempo reduzido entre início de sinais e sintomas e a chegada ao hospital (Delta-t) permite ministrar terapêuticas na fase aguda e melhorar o prognóstico clínico. A superlotação das emergências é um fenômeno global e não é uma novidade, dificultando o acesso rápido ao serviço de saúde e, consequentemente, impactando desfavoravelmente a evolução clínica dos pacientes. A pandemia mundial pelo SARS-CoV2 (COVID-19) agravou o cenário, aumentando a demanda a serviços anteriormente já sobrecarregados. Há uma crescente busca em identificar a qualidade dos atendimentos, principalmente em tempo oportuno, no período de pandemia; adicionalmente, investiga-se as possíveis relações entre COVID-19 e SCA. Assim, o objetivo do presente estudo avaliar a influência da pandemia por COVID-19 sobre os tempos de atendimento e sobre desfechos clínicos de admissões relacionadas à Síndrome Coronariana Aguda, em um Serviço de Emergência. Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo, o qual seguiu as recomendações Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE), aninhado a um projeto matriz intitulado “Efeito da pandemia por COVID-19 sobre desfechos clínicos de admissões relacionadas a outras causas em um Serviço de Emergência: analise de séries temporais” (CAAE: 30797320.8.0000.5327). O estudo foi desenvolvido no Serviço de Emergência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e a coleta de dados ocorreu por meio de uma query e revisão dos registros em prontuário. As variáveis quantitativas relacionadas aos tempos durante o atendimento no serviço de emergência (tempo para a triagem, tempo para consulta médica, tempo para exame de imagem e tempo até intervenção médica) constituíram-se no desfecho principal, tempo de internação uso de dispositivos médicos invasivos e óbito, constituíram os desfechos clínicos. Os dados foram analisados utilizando-se o programa Statistical Package for the Social Sciences®, versão 20.0, e iniciou testando-se a distribuição (teste de normalidade de Shapiro-Wilk). A descrição das variáveis numéricas foi feita por meio de mediana e intervalo interquartil. As variáveis categóricas foram representadas por frequência absoluta e relativa. Para a comparação entre os grupos (pré pandemia e durante pandemia) foram adotados teste de Mann-Whitney e de qui- quadrado, respeitando-se os pressupostos necessários para aplicação de cada um deles. O nível de significância adotado foi de 5%. Para análise das variáveis que contribuíram para o aumento do tempo delta-t foi realizado Modelo linear generalizada (MLG) com distribuição gama, pois a variável delta-t tem distribuição assimétrica positiva.Foram incluídos 434 pacientes no período pré-pandemia e 430 durante a pandemia. O Delta-t foi maior no período durante a pandemia (p=0,003). Não encontramos diferença nos tempos de atendimento e mortalidade. Admissão no período da pandemia (RR1,56; IC95%:1,30-1,87) e ter diagnóstico de cardiopatia isquêmica (CI) prévio (RR1,82; IC95%:1,50-2,20) foram associados ao aumento do Delta-t. Conclui-se, então que não houve diferença no número de pacientes que acessou a emergência por SCA nos períodos analisados. Apesar do Delta-t ter sido maior durante a pandemia, não foram observados piores desfechos clínicos.

At the onset of signs and symptoms of Acute Coronary Syndrome (ACS), the health service should be sought urgently. The reduced time between the onset of signs and symptoms and arrival at the hospital (Delta-t) allows the administration of therapies in the acute phase and improves the clinical prognosis. Overcrowding of emergency rooms is a global phenomenon and is not new, hindering rapid access to the health service and consequently impacting unfavorably on the clinical evolution of patients. The global SARS-CoV2 pandemic (COVID- 19) has aggravated the scenario, increasing the demand for services that were already overloaded. There is a growing search to identify the quality of care, especially in a timely manner, during the pandemic period; additionally, possible relationships between COVID-19 and ACS are being investigated. Thus, the objective of the present study was to evaluate the influence of the pandemic by COVID-19 on attendance times and on clinical outcomes of admissions related to Acute Coronary Syndrome, in an Emergency Department. This is a retrospective cohort study, which followed the Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE) recommendations, nested within a parent project entitled "Effect of pandemic COVID-19 on clinical outcomes of other cause-related admissions in an Emergency Department: time series analysis" (CAAE: 30797320.8.0000.5327). The study was developed in the Emergency Department of the Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), and data collection occurred through a query and review of medical records. The quantitative variables related to the time during the emergency service (time to triage, time to medical consultation, time to imaging exam and time to medical intervention) were the primary outcome, and length of stay, use of invasive medical devices and death were the clinical outcomes. Data were analyzed using the Statistical Package for the Social Sciences®, version 20.0, and distribution was tested (Shapiro-Wilk normality test). Numerical variables were described using median and interquartile range. Categorical variables were represented by absolute and relative frequency. For comparison between groups (pre-pandemic and during the pandemic) the Mann-Whitney and chi-square tests were used, respecting the necessary assumptions for the application of each one. The significance level adopted was 5%. To analyze the variables that contributed to the increase in delta-t time, a Generalized Linear Model (GLM) with gamma distribution was performed, since the delta-t variable has a positive asymmetric distribution.434 patients were included in the pre-pandemic period and 430 during the pandemic. Delta-t was higher in the period during the pandemic (p=0.003). We found no difference in the times of attendance and mortality. Admission in the pandemic period (RR1.56; 95%CI:1.30-1.87) and having a previous diagnosis of ischemic heart disease (IC) (RR1.82; 95%CI:1.50-2.20) were associated with increased Delta-t. We conclude, then, that there was no difference in the number of patients who accessed the emergency department for ACS in the analyzed periods. Although Delta-t was higher during the pandemic, no worse clinical outcomes were observed.